Me lembro da primeira vez em que tive a oportunidade de ver pessoalmente uma obra de arte de grande valor, dessas que costumamos conhecer através dos livros. Na ocasião, era possível sentir uma atmosfera diferente na sala de exposição, com suas paredes cobertas por obras de, pelo menos, cinco séculos de história. Antes que eu pudesse fazer qualquer avaliação mais técnica (como estudante de design curiosa que eu era), fiquei tão hipnotizada que só consegui observar em silêncio por alguns minutos. Meus olhos caminhavam atentamente por cada centímetro daquelas imagens enquanto eu, tomada por admiração e certa dose de espanto, tentava compreender como um ser humano pode ser capaz de produzir algo tão belo. Eu estava emocionada.
Recentemente, li o artigo “The Power of Everyday Awe” (algo como “O Poder da Admiração Diária”) da Harvard Business Review. O autor Eben Harrell define awe como “a sensação de estar na presença de algo vasto que transcende sua compreensão atual do mundo”. Segundo ele, essa sensação pode vir de lugares mais comuns (como natureza, música, design visual e beleza moral) ou menos comuns (como experiências coletivas e espirituais, epifanias, nascimentos e mortes). Um dos pontos que mais me chamou atenção no argumento de Harrell foi sobre o efeito que a admiração causa na nossa percepção sobre o mundo e sobre nós mesmos. Para ele, reconhecer algumas das maravilhas da vida promove a diminuição do nosso senso de autoimportância — ter uma imagem ou conceito elevado acerca de si mesmo. Em outras palavras, nos dá uma visão mais equilibrada da realidade e nos leva a perceber algo fundamental: nós não somos o centro do universo. Pelo contrário, somos apenas uma pequena parte dentro de um contexto infinitamente maior.
Na maioria das vezes, esses momentos de admiração são raros, mas não precisam ser. Podemos romper com a monotonia dos dias ordinários simplesmente adotando um novo jeito de enxergar a vida, através de um olhar que nos permita dar lugar à admiração quando estivermos diante das situações, sejam elas banais ou não. Eu citei no início desta edição um episódio pontual que aconteceu em uma experiência atípica. Mas já fui, em muitas outras ocasiões mais corriqueiras, tomada pelo mesmo sentimento de admiração e deslumbramento — como assistir ao degradê de tons pastel que pinta o céu em um entardecer de outono ou presenciar uma criança se arriscando a dar seus primeiros passos. Porque, muitas vezes, é mais sobre o nosso olhar diante da vida do que sobre o acontecimento em si.
É nesse sentido que eu prefiro ser emocionada. Prefiro não fingir normalidade ou dar lugar à indiferença enquanto existe um mundo de oportunidades para se maravilhar. Prefiro deixar os olhos marejarem quando o que eles veem toca também a alma. E, se acontecer, deixar que as lágrimas corram livremente pelo meu rosto sem que eu me envergonhe delas. Prefiro encarar a maioria das coisas como dádivas — porque elas de fato são — e não me esconder atrás de um sorriso blasé. Estou convencida de que mesmo o acontecimento mais banal pode ser transformado em algo belo por quem é capaz de ver o coração das coisas.
Pílulas de Beleza
Os dias frios chegaram de vez por aqui e eu amo observar como, à medida que as paisagens mudam lá fora, nossas preferências também seguem os ritmos da estação. O ar campestre tem estado mais presente entre as minhas inspirações e só de olhar para essas imagens consigo sentir a brisa fresca soprando no rosto. Nesta edição, destaco as formas, texturas e padrões que têm me inspirado ultimamente.

Para Treinar o Olhar
O canal da Lauren Liess no YouTube foi uma das minhas recentes — e melhores — descobertas. Em uma série de vídeos intitulada “The Meadow”, a designer de interiores americana fala sobre a sua experiência reformando uma casa de campo da década de 70. Neste episódio, Lauren reflete sobre o poder da intenção, a beleza das manhãs tranquilas e a alegria silenciosa que agora reside em cada canto da casa. De podas de jardim a jantares em família, este episódio é uma homenagem à jornada. Para assistir com calma e deixar o olhar viajar, sem sair do lugar.
O meu desejo é que você termine essa leitura sentindo que aprendeu ou descobriu algo novo, se reconectou consigo mesmo e com o ambiente ao seu redor, ou pelo menos se inspirou para levar mais beleza para sua vida. Se quiser compartilhar o que mais te chamou atenção, vou adorar saber o que você achou. Te espero na próxima.